Crianças no SBT, Romeu e Julieta fazem manifesto feminino na Broadway

Um dos textos mais populares da história da literatura, Romeu e Julieta ganhou recentemente duas adaptações que fogem do original de William Shakespeare (1564-1616). No SBT, a novela A Infância de Romeu e Julieta leva a trama dos amantes trágicos para o universo infantojuvenil. No teatro, o desfecho conhecido serve de pontapé para uma história feminista.

& Juliet, em cartaz na Broadway, conta o que aconteceria com Julieta (Lorna Courtney) caso ela não morresse no final de sua história com Romeu (Ben Jackson Walker, de Honor Society). Na hora de tirar a própria vida, ela percebe que mal conhecia o seu amado e que o sacrifício não vale a pena. Bem viva, descobre que o herdeiro dos Montecchio era um galanteador barato, que seduziu várias mulheres como ela (e alguns homens também).

A vida da mocinha recebe interferências do próprio Shakespeare (Stark Sands) e da mulher dele, Anne Hathaway (Betsy Wolfe). O bardo britânico tenta a todo custo colocar sua história nos eixos, enquanto sua esposa se esforça para transformar Julieta em uma personagem que não precisa de um homem para ser feliz.

Disposta a ajudar a mocinha em sua jornada feminista, Anne cria uma personagem para si mesma, April, e se enfia na história. As duas, juntamente com a ama Angelique (Melanie La Barre) e com sue amigue não-binárie May (Justin David Sullivan), partem para Paris em busca de novas aventuras. Na capital francesa, se envolvem em uma complicada teia amorosa com o sensível François (Philippe Arroyo) e o pai dele, Lance (o brasileiro Paulo Szot). E tudo fica pior ainda quando Shakespeare decide trazer Romeu de volta à vida!

O brasileiro Paulo Szot está no elenco de & Juliet

Divulgação/Matthew Murphy

Apesar de a história se passar na época de Romeu e Julieta, a trilha sonora é moderna, com canções de Celine Dion, Britney Spears, Demi Lovato, Jessie J, Bon Jovi, Backstreet Boys e Ariana Grande, entre outros expoentes do pop. O elo entre todas as músicas é Max Martin, produtor sueco que é uma verdadeira máquina de hits.

A mistura do moderno com o clássico funciona e prende do início ao fim. O roteiro de David West Read é esperto e consegue usar o machismo do século 16 a favor da narrativa, com Shakespeare e Romeu representando os homens ultrapassados, e Anne e Julieta como vozes do feminismo moderno.

Mesmo com os críticos puristas da Broadway preferindo musicais tradicionais, com canções compostas especialmente para o teatro, & Juliet conquistou o público e os votantes do Tony Awards, que deram ao espetáculo nove indicações ao prêmio deste ano –é a segunda peça mais nomeada da cerimônia, atrás apenas de Some Like It Hot, adaptação do clássico Quanto Mais Quente Melhor (1959).

Além de melhor musical e melhor roteiro para West Read, Lorna Courtney concorre como melhor atriz, e Betsy Wolfe foi lembrada como coadjuvante. A entrega acontece em 11 de junho, com exibição no Brasil pelo Film&Arts.

*A Tangerina assistiu ao espetáculo a convite da Broadway Inbound, empresa que negocia ingressos para o teatro com agências de turismo e grupos grandes.