Duetto: Marieta Severo e galã de 365 Dias se unem em drama comovente

É pouco provável que alguma pessoa já tenha imaginado ver a dona Nenê, de A Grande Família (2001-2014), e Massimo Torricelli, da trilogia 365 Dias, juntos em cena. Duetto (2022), longa que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (29), não realiza exatamente este “sonho”, mas une os astros Marieta Severo e Michele Morrone em um drama comovente.

No longa, os dois artistas interpretam personagens muito diferentes daqueles que talvez sejam os mais marcantes de suas carreiras. Marieta vive Lúcia, mulher idosa que deixa o Brasil em 1965, durante a Ditadura Militar (1964-1985), rumo à Itália para tentar recomeçar a sua vida após a morte de seu filho. Já Morrone dá vida a Marcello Bianchini, cantor italiano crítico ao governo que busca reacender a sua carreira musical.

Nascida na Itália, Lúcia deixou o país natal ainda jovem para viver no Brasil. Ao lado da neta Cora (Luisa Arraes), ela retorna após quase 40 anos sem ver sua família para reencontrar a irmã, Sofia (Elisabetta de Palo), e resolver questões envolvendo propriedades de seus pais.

Lúcia, no entanto, abandonou a Europa e deixou a família para trás depois que Sofia fugiu e se casou com Gino (Giancarlo Giannini), seu ex-noivo. De volta à Itália, ela é obrigada a encarar as pessoas que lhe fizeram tão mal no passado e, quem sabe, dar o perdão há muito idealizado pela irmã.

É através do luto que Duetto propõe contar a história de Lúcia e Cora. A veterana perdeu um filho e volta ao país natal para resolver conflitos passados que a impedem de seguir de vez com a sua vida. No caso de sua neta, a jovem tem em sua nova realidade na Itália um caminho de aprendizado para atingir a maturidade.

Michele Morrone em cena de Duetto

Divulgação/Imagem Filmes

Duetto é, acima de tudo, uma história sobre o egoísmo que envolve as relações amorosas. Lúcia escolheu deixar a família para trás após a irmã e o ex-noivo a “abandonarem” para ficarem juntos. Já Cora lida com a sua paixão platônica por Marcello sem enxergar os sentimento de Carlo (Gabriel Leone), rapaz que foi criado por Gino e Sofia depois da morte de seus pais.

Uma das maiores atrizes brasileiras da história, Marieta comove com uma personagem que entrega nas feições alguém que carrega suas dores por décadas. Seu filho e sua neta eram os motivos de continuar seguindo em frente, e a perda do primeiro a leva ao limite. Chega a ser palpável o drama de Lúcia e a resistência com que leva o reencontro com o casal Gino e Sofia.

No caso de Cora, no entanto, sua jornada de amadurecimento sofre com tropeços. Talentosa, Luisa Arraes não compromete e convence ao atuar tanto em português quanto em italiano, mas a personagem muitas vezes parece sem rumo dentro do roteiro escrito por Rita Buzzar e João Segall. Sua fixação por Marcello e a não tão bem resolvida relação com Carlo são mal trabalhadas, o que dá a impressão de que a coprotagonista tinha função incerta dentro da trama principal de Duetto.

Apesar do sucesso com a trilogia sensual da Netflix, a participação de Morrone acaba sendo quase totalmente escanteada pela figura imponente de Giancarlo Giannini. O indicado ao Oscar divide com Marieta as sequências mais dramáticas do longa e entrega uma performance à altura de sua carreira.

Comovente, Duetto é mais um ponto alto na carreira de Marieta Severo e prova que a atriz de 75 anos ainda tinha muita lenha para queimar depois de 15 anos na pele da icônica dona Nenê. Além do público, quem ganha com o seu retorno aos papéis dramáticos é o cinema brasileiro –e, claro, o internacional.

Duetto

Trailer oficial