ENTRE PÁGINAS

Jennette McCurdy lança livro de memórias onde relata abuso sofrido na infância e adolescência pela mãe

Divulgação/Montagem

Estou feliz que minha mãe morreu

5 revelações bombásticas do livro de memórias de Jennette McCurdy

Ex-estrela de iCarly, Jennette McCurdy abre o jogo sobre relação tóxica com a mãe e relata abusos sofridos na infância e na adolescência em nova obra

Beatriz Duranzi
Beatriz Duranzi

Conhecida no mundo inteiro por seu papel como a gulosa e agressiva Sam Puckett na sitcom iCarly (2007-2012), Jennette McCurdy finalmente tem a chance de contar a sua história. Lançada na última semana, a autobiografia Estou Feliz que Minha Mãe Morreu (I’m Glad My Mom Died, no original em inglês) rapidamente chegou ao topo dos mais vendidos da Amazon nos Estados Unidos e já está em pré-venda no Brasil pela nVersos Editora. 

A atriz e cantora de 30 anos não poupou detalhes ao relatar tudo o que sofreu nas mãos de sua mãe durante a infância e a adolescência. Segundo ela, Debra McCurdy era “uma narcisista” que a abusou “emocional, mental e fisicamente”.  

O impacto já é sentido no prólogo no livro, que apresenta os leitores a uma Jennette de 21 anos no leito de morte da mãe. Debra está em coma na UTI, e o médico diz que ela só tem mais 48 horas de vida. Seu pai e seus avós estão do lado de fora, junto com seus três irmãos mais velhos –Marcus, Dustin e Scott–, e todos estão tentando fazê-la acordar. 

Marcus conta que vai voltar para a Califórnia em breve, Dustin diz que vai se casar, todos começam a dizer coisas boas, que fariam com que a mãe ficasse feliz e despertasse. É a vez de Jennette. Ela diz: “Mãe, estou tão magra agora”. A atriz e cantora conta que naquele momento ela havia atingido o peso dos sonhos de sua mãe: 40 quilos. Os dias de tristeza e preocupação culminaram no perfeito coquetel anoréxico que a levou a atingir tal marca. 

Debra não acorda e a jovem começa a se questionar: o que fazer agora? Durante anos, seu propósito na vida foi fazer a mãe feliz, ser quem a mãe quisesse que ela fosse. Agora que ela está morrendo, quem Jennette deveria ser? 

Veja abaixo as maiores e mais perturbadoras revelações compartilhadas por Jennette McCurdy em Estou Feliz que Minha Mãe Morreu: 

Começou a atuar contra sua vontade

Jennette começou a atuar aos seis anos por insistência da mãe. Quando ainda era muito jovem, Debra conseguiu que ela e o irmão Marcus fizessem uma audição com a agente de talentos infantil Barbara Cameron, mãe de Candace Cameron (Full House) e Kirk Cameron (Tudo em Família). Logo de cara, Barbara deixou claro que só assinaria com Marcus e que Jennette era muito “sem carisma”. 

Criada na religião mórmon, sua mãe mandou que ela orasse para que Barbara a aceitasse e, enquanto isso, ela convenceu a agência a assumir sua filha também. Quando Jennette conseguiu seu primeiro papel como figurante, aos seis anos, Debra a informou que como sua representante, “não ia aceitar nada do seu dinheiro, exceto o salário, mais o essencial”. Mas ela se esqueceu de mencionar o que era o tal “essencial”. “Este dia foi estressante e não foi divertido. Se tivesse a escolha, eu escolheria nunca mais fazer nada parecido”, escreve Jennette. 

Trauma envolvendo banhos e idas ao banheiro 

Jennette conta que, quando tinha oito anos, sua mãe disse que fazer pausas para ir ao banheiro não era profissional. Um dia, sem conseguir mais segurar, ela pediu permissão para usar o banheiro e chorou durante todo o caminho de volta enquanto se desculpava com a mãe. 

Ela ainda escreve que passou cinco anos com medo do chuveiro e que, aos 12 anos, sua mãe ainda lhe dava banho, alegando que a jovem não lavava o cabelo de maneira correta. Debra também fazia o “exame de seios e bumbum” e explicava que estava verificando seu peito e partes íntimas em busca de nódulos cancerígenos. “Geralmente tentava pensar na Disneylândia quando mamãe estava fazendo os exames”, diz ela, que sentia uma grande onda de alívio quando os procedimentos terminavam. 

‘The Creator’ e a Nickelodeon

Enquanto estava em iCarly, aos 13 anos, Jennette sentia que estava sendo sexualizada no programa. A autora lembra com repulsa de um episódio em que foi fotografada de biquíni durante uma prova de roupa. O designer de figurino da série disse a ela que “The Creator” –como Jennette se refere ao produtor Dan Schneider ao longo do livro– queria especificamente que ela usasse biquínis, embora ela se sentisse mais confortável vestindo um maiô. 

Ela ainda relata que foi encorajada a beber álcool por “The Creator” quando tinha 18 anos. Ele alegava que os jovens de Brilhante Victória (2010-2013) ficavam bêbados juntos o tempo todo e que “as crianças de iCarly precisavam de um pouco de vantagem”. 

Em situações como essas, Debra nunca a defendeu e ainda afirmou que esse é o preço do sucesso. Perto do fim das gravações de Sam & Cat (2013-2014), Jennette recusou uma oferta de US$ 300 mil (R$ 1,5 milhão) para “nunca falar publicamente sobre sua experiência na Nickelodeon”. Na época, “The Creator” não tinha mais permissão para estar no set com os atores e foi rebaixado a uma pequena sala para assistir ao que estava sendo gravado remotamente, uma punição da emissora por “acusações de seu abuso emocional”. 

Distúrbios alimentares 

Além dos banhos, a mãe controlava, sem pudor, a alimentação de Jennette. A ex-atriz lembra que, uma vez, disse animadamente para Debra que havia escrito um roteiro, mas logo foi desencorajada pela parente. Ela alegou que escritores eram desleixados e que não queria que sua bunda engordasse. 

Quando alcançou a puberdade, Jennette começou a ficar muito assustada ao desenvolver seios. Ela ficou assustada porque desde muito nova sua mãe tinha sido diagnosticada com câncer de mama e se perguntava se estava acontecendo o mesmo com ela.

Debra assegurou que era um desenvolvimento natural, mas que Jennette poderia impedi-los de crescer restringindo seu consumo de calorias. Quando ela apareceu no consultório pesando 27 quilos aos 12 anos, sua mãe disse ao médico preocupado que faria a filha comer mais, o que, como escreve a autora, era uma mentira.

Após a morte de sua mãe, Jennette ressalta que estava feliz por estar chateada demais para comer: “Pelo menos me sinto magra, valiosa e bem com meu corpo”. Mas quando ela saiu para jantar com amigos não muito tempo depois, comeu tudo o que pediu e bebeu uma garrafa de saquê. 

Beber muito para ajudar sua bulimia tornou-se um hábito. Quando as gravações de Sam & Cat terminaram, em 2014, ela começou a presumir que teria um ataque cardíaco induzido por bulimia. “É difícil admitir isso”, escreve, “mas uma parte de mim realmente gostaria que eu fizesse isso. Então eu não precisaria mais estar aqui.”

Ela percebeu que estava comendo compulsivamente e vomitando de cinco a dez vezes por dia, além de tomar oito ou nove doses de álcool todas as noites. Seu terapeuta chegou a ter que acompanhá-la em tapetes vermelhos durante algum tempo para evitar que o pior acontecesse. 

Problemas em iCarly e Sam & Cat

Jennette McCurdy descreve com detalhes o momento do seu primeiro beijo, em cena e na vida real, com seu colega de elenco Nathan Kress (Freddie em iCarly). A atriz conta que estava muito desconfortável e insegura na hora e, mesmo sendo tratada com muita gentileza por Nathan, só queria que tudo acabasse. Ela se lembra de sentir seu corpo resistindo da cabeça aos pés e “The Creator”, que dirigia o episódio, exigir “mais movimento da cabeça” por parte dela. 

Já durante seu tempo gravando Sam & Cat, Jennette admite que estava cada vez mais chateada com a fama em ascensão de Ariana Grande, sua colega de elenco, como uma estrela pop, enquanto ela tinha que trabalhar em torno da agenda da cantora. “Eu me ressinto por ser generosa”, escreve Jennette. “Se eu não fosse generosa para começar, eu não estaria nessa situação em primeiro lugar. Eu não estaria nessa série de merda, dizendo essas falas de merda nesse set de merda com esse penteado de merda.” 

Ao longo do livro, Jennette relembra, com muito carinho, sua relação de amizade e companheirismo com sua parceira em iCarly, Miranda Cosgrove, e conta que a atriz era uma das poucas pessoas em que ela confiava o suficiente para conversar sobre seus distúrbios alimentares. 

Quando Miranda apresentou a ideia de fazerem o reboot de iCarly, Jennette recusou pessoalmente o convite da amiga, ressaltando que sua saúde mental e sua felicidade eram mais importantes do que dinheiro e sucesso. Em entrevistas recentes, ambas as atrizes exaltaram seus trabalhos individuais e disseram que sentem muito orgulho e empatia uma pela outra. 

Em entrevista ao New York Times, Miranda Cosgrove afirmou que não sabia dos problemas que Jennette enfrentava na época em que gravavam a série.

O reboot de iCarly é produzido pela Nickelodeon Studios, com produção executiva de Ali Schouten-Seeks e Miranda Cosgrove, com Schouten atuando como showrunner. Dan Schneider, criador da série original, foi demitido pelo canal em 2018 por suspeita de assédio e não está envolvido na produção. 

Jennette McCurdy abandonou a carreira de atriz em 2016 e só retornou ao cinema como diretora e escritora do curta-metragem Kenny (2018).

Informar Erro
Falar com a equipe
QUEM FEZ
Beatriz Duranzi

Beatriz Duranzi

Estudante de jornalismo na Anhembi Morumbi, Beatriz é estagiária na Tangerina. Apaixonada pelo mundo do entretenimento, ela é especialista em cuidar da vida alheia nas redes sociais.

Ver mais conteúdos de Beatriz Duranzi

0 comentário

Tangerina é um lugar aberto para troca de ideias. Por isso, pra gente é super importante que os comentários sejam respeitosos. Comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, com palavrões, que incitam a violência, discurso de ódio ou contenham links vão ser deletados.

Acesse sua conta para comentar

Ainda não tem uma conta?