Divulgação/Disney+
Parece que os CGI de qualidade duvidosa dos últimos lançamentos da Marvel têm explicação: desvalorização dos artistas de efeitos especiais
Nos últimos meses, a Marvel tem recebido diversas críticas com relação à qualidade dos efeitos visuais de seus filmes e séries. No longa mais recente, Thor: Amor e Trovão (2022), a cena da projeção astral de Axl (Kieron Dyer), filho de Heimdall (Idris Elba), foi motivo de piada entre os fãs. O trailer da série Mulher-Hulk também desagradou, já que não atingiu o nível que se espera do MCU (Universo Cinematográfico da Marvel).
Segundo um relato obtido pela Vulture, uma das razões para o CGI de qualidade duvidosa são as péssimas condições de trabalho oferecidas pela Marvel aos estúdios de efeitos especiais. “É um fato bem conhecido e até mesmo brincado, de maneira sombria, em todas as casas de efeitos visuais, que trabalhar nos programas da Marvel é realmente difícil“, relatou, de maneira anônima, um artista de efeitos especiais que já trabalhou para a megaprodutora.
De acordo com o profissional, a quantidade de lançamentos do estúdio é excessiva e obriga os artistas a cumprirem muitas horas extras para conseguirem entregar tudo. “Já tive colegas de trabalho sentados ao meu lado, desmoronando e começando a chorar. Já vi pessoas tendo ataques de ansiedade ao telefone.”
O artista também contou que a Marvel é bastante conhecida por cobrar alterações e retoques de última hora. “O estúdio tem muito poder sobre as casas de efeitos, só porque tem tantos filmes de sucesso saindo um após o outro. Se você chatear a Marvel de alguma forma, há uma grande chance de você não conseguir esses projetos no futuro. Então, as casas de efeitos estão tentando se virar para manter a Marvel feliz”, revelou.
Os filmes e séries da produtora sempre têm orçamentos exorbitantes –o último longa lançado foi feito com US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão)–, mas o artista afirma que o valor separado para os responsáveis pelos efeitos é baixo, o que resulta em equipes reduzidas e jornadas de trabalho dobradas.
“Com a Marvel, os lances normalmente ficam um pouco abaixo, e a Marvel está feliz com esse relacionamento, porque economiza dinheiro. Mas o que acaba acontecendo é que todos os projetos da Marvel tendem a ter falta de pessoal. Onde eu normalmente teria uma equipe de dez artistas de efeitos visuais em um filme que não é da Marvel, em um filme da Marvel, consegui dois, incluindo eu. Assim, cada pessoa está fazendo mais trabalho do que precisa.”
O relato ainda conta, sem citar exatamente qual foi o filme em que isso aconteceu, que um dos longas da Marvel teve cenas importantes alteradas um mês antes da estreia e que o estúdio de efeitos visuais responsável por isso não conseguiu cumprir todas as exigências. O resultado? Entrou para a lista de proibições e não trabalhará mais com a Marvel Studios.
A fonte também explica que os novos diretores contratados para os filmes do MCU não têm experiências com blockbusters, não entendem o processo de pós-produção que esses filmes exigem e que nunca há um diretor de fotografia envolvido no processo.
“Um bom exemplo do que acontece nesses cenários é a cena de batalha no final de Pantera Negra (2018). A física está completamente desligada. De repente, os personagens estão pulando, fazendo todos esses movimentos malucos, como figuras de ação no espaço. Do nada, a câmera está fazendo esses movimentos que não aconteceram no resto do filme. Tudo parece um pouco caricatural. Isso quebrou a linguagem visual do filme.”
O profissional finalizou o desabafo propondo mudanças ao estúdio. “A Marvel precisa treinar seus diretores para trabalhar com efeitos visuais e ter uma visão melhor desde o início”, sugere. “Outra coisa é a sindicalização. Há um movimento crescente para fazer isso, porque ajudaria a assegurar que as casas de efeitos visuais não possam aceitar lances sem ter que considerar quais seriam os impactos. Porque na maioria das vezes, é como se você trabalhasse em um programa da Marvel, e trabalharia nisso por um valor mais barato só porque é legal.”
Giulianna Muneratto
Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero. Adora um filme clichê, música pop e sonhava em ser cantora de cruzeiro, mas não tem talento pra isso.
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