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Presença inusitada na lista de séries mais vistas na HBO Max, Babylon 5 alcançou nos anos 1990 algo que Star Wars sonha em conseguir na TV agora
Nas últimas semanas, em meio à quarta temporada de Westworld e ao reality show nacional A Ponte, os assinantes da HBO Max podem ter se deparado com uma presença inusitada na lista de programas mais populares do catálogo: a ficção científica Babylon 5. Exibida originalmente entre 1993 e 1998, a série espacial voltou com tudo no streaming –e deixou ainda mais claros os erros que a Disney tem cometido com Star Wars em produções como Obi-Wan Kenobi (2022).
Na verdade, a Tangerina vai além e aponta que os produtores responsáveis pelas próximas séries de Star Wars deveriam assistir (ou reassistir) a Babylon 5 e tomar notas de como fazer uma atração televisiva no espaço. Do planejamento prévio ao carisma dos personagens, o sci-fi criado por J. Michael Straczynski tem muito a ensinar para os discípulos de George Lucas.
Para quem não conhece, Babylon 5 conta a história de uma estação espacial gigantesca, construída como uma tentativa de diplomacia entre terráqueos e diferentes raças alienígenas. Embaixadores de várias espécies moram ali e discutem maneiras de manter a paz (ou de buscá-la em tempos de guerra iminente). Uma espécie de ONU (Organização das Nações Unidas) das galáxias.
Babylon 5 consegue inserir em sua narrativa temas espinhosos como política, religião, filosofia e psicologia, sem perder de vista as cenas de ação que mantêm o público engajado. Ao longo de cinco temporadas, a estação e seus habitantes encaram problemas de diferentes tamanhos: de um fugitivo escondido nos corredores a uma guerra entre espécies que ameaça destruir o universo.
Confira cinco motivos para Star Wars se inspirar em Babylon 5:
Sumiço de Sinclair (Michael O'Hare) leva anos para ser explicado
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Depois de trabalhar em algumas séries que estouravam seu orçamento por falta de planejamento, Straczynski decidiu se prevenir e desenhou um arco de temporadas completas antes mesmo de oferecer Babylon 5 às emissoras de TV. Com isso, além de economizar com cenários e efeitos especiais feitos às pressas, ele pôde plantar situações que só seriam revolvidas anos depois, como o sumiço do comandante Jeffrey Sinclair (Michael O’Hare) no fim da primeira leva de episódios.
Um planejamento mais redondinho em Star Wars evitaria desde falhas no roteiro –como o beijo entre Luke (Mark Hamill) e Leia (Carrie Fisher) na trilogia original– a um problema grave evidenciado por Obi-Wan Kenobi: os personagens principais não correm risco de morte nem podem passar por um arco narrativo transformador, porque o público já sabe o destino deles, apresentado nos longas da saga. Ou alguém achou que o jedi vivido por Ewan McGregor poderia mesmo morrer na série?
Londo (Peter Jurasik) e G'Kar (Andreas Katsulas) roubam todas as cenas
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Outro problema das séries de Star Wars? Muitos personagens simplesmente não chamam a atenção. O Livro de Boba Fett (2021), por exemplo, foi tedioso para boa parte do público até os episódios que mostraram o retorno de Din Djarin (Pedro Pascal). A própria The Mandalorian, por sinal, parece apostar exclusivamente no carisma de seu protagonista e de Grogu (ou Baby Yoda, para os íntimos) para sustentar sua narrativa. Sem eles, não há série.
Babylon 5, por sua vez, tinha mais de uma dezena de personagens muito bem construídos para carregar sua história. Apesar de o protagonista de boa parte da trama ser John Sheridan (Bruce Boxleitner), capitão da estação espacial, todos os outros integrantes do elenco fixo tinham capacidade de carregar um episódio próprio –e muitos deles o fazem. E ninguém estava ali para ser fofo ou mero alívio cômico: basta perceber a relação entre Londo Mollari (Peter Jurasik) e G’Kar (Andreas Katsulas), que passava pelo riso, pelo drama e pelo ódio com naturalidade.
Famoso por Star Trek, Walter Koenig viveu telepata cruel
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Uma boa produção de ficção científica precisa de alguns momentos de fanservice, certo? Enquanto Star Wars apela para nomes como o músico Flea ou a lutadora Sasha Banks, Babylon 5 não teve medo de homenagear outras produções espaciais –até aquelas que poderiam ser consideradas suas “rivais”. Assim, Walter Koenig (que viveu Chekov em Star Trek) aparecia como o telepata Alfred Bester, e Bill Mumy (o Will Robinson de Perdidos no Espaço) interpretava o minbari Lennier.
Até o protagonista Bruce Boxleitner tinha histórico na ficção científica: ele deu vida a Tron no longa homônimo da Disney! E, tudo bem, a gente admite que essas pequenas homenagens não fazem diferença na qualidade da trama, mas não deixa de ser um mérito de Babylon 5 reconhecer outras produções do gênero ao escalar um elenco com tanta história.
Já imaginou ter um bonequinho de Kosh? Você até pode, mas não é fácil
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O universo de Star Wars vai muito além da arrecadação dos filmes nas bilheterias mundiais ou no número de novos assinantes que se rendem ao Disney+ para acompanhar uma nova série. É um mercado bilionário, com bonequinhos (ou action figures, como preferir), jogos de tabuleiros, kits de Lego, cards colecionáveis… O céu é o limite para os fãs da saga –e haja dinheiro para tanta coisa!
Porém, muitas vezes as produções de Star Wars parecem inserir alguns detalhes apenas pensando em capitalizar em cima deles posteriormente. Um novo androide significa mais um boneco a ser vendido. Uma nave diferente? Melhor se preparar para a versão dela em Lego! Mais filmes? Vem aí uma experiência inédita nos parques temáticos da Disney. Até com drinques espaciais é possível faturar (e muito)!
Babylon 5 até lançou action figures de seus personagens, mas eles não eram tão populares quanto os de Star Wars e, por isso, a história não era guiada em cima de mais oportunidades de capitalizar. Na verdade, a série deu um retorno tão abaixo do esperado na época de sua exibição que quase foi encerrada antes da hora: o último episódio do quinto ano foi gravado para fechar a quarta temporada, que corria risco de ser a última! Só depois de a atração ser renovada para uma leva derradeira, a equipe pôde rodar um novo capítulo e segurar o verdadeiro final durante um ano inteiro.
Os efeitos especiais não envelheceram tão bem, mas continuam como eram
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Se você decidir ver Babylon 5, tenha em mente que a série é uma filha dos anos 1990. Isso significa que os efeitos especiais não envelheceram tão bem (apesar de não existir nada tão comprometedor para a qualidade da trama).
Mas, para a alegria dos fãs das antigas, J. Michael Straczynski não segue a escola George Lucas de ficar mexendo no que já está pronto. A produção disponível na HBO Max é exatamente a mesma que foi ao ar três décadas atrás. Se um personagem disparou sua arma primeiro lá, vai continuar fazendo o mesmo aqui.
As cinco temporadas de Babylon 5 estão disponíveis na HBO Max.
Luciano Guaraldo
Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.
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