FILMES E SÉRIES

Batgirl, Leslie Grace

Divulgação/Warner Bros.

ANÁLISE

Cancelar Batgirl faz sentido na finança, mas pega muito mal para a WB

Embora pareça ter a melhor das intenções, David Zaslav tem errado feio na maneira como toma decisões sobre futuro da Warner Bros. Discovery

Luciano Guaraldo

Principal assunto da semana no mundo todo, o cancelamento inesperado de Batgirl levantou muitas dúvidas sobre o que está acontecendo com a DC Comics –até fãs de Bruna Marquezine se envolveram com a história, preocupados com o futuro de Besouro Azul. Presidente da Warner Bros. Discovery, David Zaslav justificou suas ações sob o ponto de vista econômico. Mas, mesmo que a decisão faça sentido financeiramente, ela pega muito mal para a empresa.

Em primeiro lugar, o fim de Batgirl choca pela maneira como foi feito. O filme já estava todo gravado, com a pós-produção em andamento e previsto para estrear na HBO Max ainda neste ano. E os diretores do longa, Adil El Arbi e Bilall Fallah, tinham viajado para o Marrocos para o casamento do primeiro quando foram pegos de surpresa com a notícia.

Se não avisar os diretores da produção com antecedência já parece errado, a situação fica ainda pior: David Zaslav sequer consultou Walter Hamada, presidente da DC Films, antes de jogar Batgirl no lixo. O executivo se frustrou tanto por ter sido deixado de lado na hora de uma decisão tão grande que já teria pedido até demissão de seu cargo.

Também não pega nada bem o fato de David Zaslav ter cancelado o filme com um orçamento de US$ 90 milhões (R$ 464 milhões) por considerá-lo caro demais depois de ter recebido quase US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão) em remuneração e benefícios no ano passado, de acordo com a Variety.

Para piorar, ele afirmou em reunião com acionistas na quinta-feira (4) que o filme do Flash continua de pé e que a Warner Bros. Discovery está orgulhosa do que viu. Difícil ter orgulho das ações do protagonista da obra, Ezra Miller, que não para de se envolver em escândalos e já foi acusado até de dopar menores de idade.

A sucessão de erros na maneira como o destino de Batgirl foi sentenciado é tão grande que, apesar de a empresa ter ótimos resultados para apresentar (como o recorde de indicações ao Emmy), sua reunião trimestral foi basicamente sobre dois temas: a morte surpreendente do longa estrelado por Leslie Grace e a fusão da HBO Max e do discovery+ em um único streaming. Um pesadelo para qualquer profissional de marketing e relações públicas.

Do lado do entretenimento, a decisão também gera muitas repercussões negativas. Diretores, atores e roteiristas conceituados vão pensar duas, três ou quatro vezes antes de assinarem contrato para trabalharem em um filme da Warner. Afinal, quem assegura que o projeto será lançado? E quem está disposto a jogar mais de um ano de sua vida fora em um longa que pode nunca ser visto?

Curiosamente, fontes nos bastidores da indústria apontam que David Zaslav tem circulado entre grandes profissionais para tentar conquistá-los com suas medidas. Afinal, a gestão de Jason Kilar irritou muitos diretores ao lançarem filmes simultaneamente no cinema e na HBO Max –Christopher Nolan chegou a classificar a plataforma como o “pior serviço de streaming”, e Denis Villeneuve também chutou a diplomacia ao descobrir que seu Duna não teria uma janela exclusiva nas telonas.

Na tentativa de agradar cineastas ao colocar todos os filmes nas salas de cinema, o presidente da Warner Bros. Discovery pode acabar alienando-os com suas decisões aparentemente inconsequentes. Sim, tudo o que ele tem feito à frente do conglomerado visa diminuir os gastos e aumentar os lucros, mas é preciso ter em mente que o valor de uma empresa não está apenas na sua contabilidade.

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Luciano Guaraldo

Editor-chefe da Tangerina. Antes, foi editor do Notícias da TV, onde atuou durante cinco anos. Também passou por Diário de São Paulo e Rede BOM DIA de jornais.

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